sábado, 16 de julho de 2011

FORUM DE DANÇA DE CURITIBA: autonomia e posicionamento político

Carta aberta direcionada ao Fórum das Entidades Culturais – Curitiba-PR
De: Fórum de Dança de Curitiba
Data: 13/07/2011
A/C Presidência do Fórum das Entidades Culturais
Sr. Oswaldo Euclydes Aranha
Prezado Senhor:
Tendo em vista, que o Fórum de Dança de Curitiba continua a ser citado pela Diretoria do Fórum das Entidades como uma organização à qual este último representa, vimos por meio desta, “formalizar” nosso desligamento do Fórum das Entidades.
Pequeno histórico contextualizador: desde 2005, o Fórum de Dança de Curitiba - mesmo mantendo sua luta e trabalho autônomo frente à várias questões da dança e da política cultural - se aproximou do Fórum das Entidades e participou ativamente em vários momentos dos trabalhos e proposições encaminhados pelo Fórum das Entidades, com continuidade. Isso, em virtude, de que acreditamos, que quando dialogamos e trabalhamos juntos, legitimamos e valorizamos uns aos outros, tornamos, a política cultural, mais potente. Naturalmente, que não a qualquer preço.
Em 2009, por conta do modo como o Fórum das Entidades se posicionou frente à Fundação Cultural de Curitiba no diálogo e organização da Conferência Municipal (não protocolando e formalizando junto à FCC o Manifesto do Movimento Pró-Conferência e a audiência pública deste movimento; aceitando a redução na programação da Conferência - que depois foi ainda mais reduzida e extirpada pela FCC), o Fórum de Dança se posicionou veementemente contra estes procedimentos de diálogo com o poder público municipal, em assembleia, por ter percebido uma conivência da representação Fórum das Entidades, que levou à restrição da abertura e espaço para o debate sobre a Cultura municipal, durante a referida conferência, culminando na proibição da voz na plenária final desta conferência. Fato este, que foi invertido no dia da conferência, pela atuação e reivindicações do Fórum de Dança de Curitiba e de outros integrantes do Movimento Pró-Conferência de Cultura. Naquele momento, o Fórum de Dança se desligou do Fórum das Entidades por não concordar com este modo de proceder.
No início de 2011, após V.S.a assumir a presidência do Fórum das Entidades, e baseados no seu modo de conversar conosco e em sua postura, à qual sempre nos referenciamos com carinho e respeito, pensamos que poderia haver um respeito mútuo entre estas duas organizações – Fórum de Dança e Fórum das Entidades, esperando outro modo do Fórum das Entidades agir junto ao poder público. E para tanto, retomamos com vocês como mediadores de uma conversa com a Fundação Cultural de Curitiba e nos colocamos de modo autônomo, a conversar com a Secretaria de Estado da Cultura.
Como já sabido, e expressado em assembléia por integrantes do Fórum de Dança de Curitiba, nos causou estranhamento o modo como o Fórum das Entidades acordou com a Secretaria de Estado da Cultura a formação do Grupo de Trabalho para a elaboração do anteprojeto de lei para o programa de incentivo e fomento à Cultura do Paraná. Estivemos presentes com dois integrantes nossos, em uma assembléia que se destinou a dirimir questões sobre este procedimento, e nossa presença se deu para apoiar os outros grupos, organizações e artistas que se rebelaram com a indicação de apenas três membros da diretoria do Fórum das Entidades para composição do referido grupo de trabalho. Algo que nos soou como autoritário, sem consultar as organizações por vocês representadas, sem considerar a consulta de base realizada em 2010 que reconheceu representantes nas áreas da Dança, da Música, do Teatro nos Colegiados Setoriais, estes todos (os paranaenses), partícipes das assembléias do Fórum das Entidades. Algo que poderia ser entendido como uma falta de capacidade de articular distintas instâncias de representatividade que participam do Fórum das Entidades, mas que nos ficou claro, era uma forma de desvalorizar o trabalho, articulação, capacidade representativa de participantes de outras organizações que integram ou integraram, o Fórum das Entidades.
Este Fórum de Dança, não abandonando um modo aberto, transparente e determinado de se posicionar frente às questões da Cultura e da Dança e frente aos modos de se proceder nas proposições de debate e diálogo entre sociedade civil e esferas públicas de poder, buscou conversar com vocês, apresentando publicamente em assembléia a preocupação com este procedimento por parte do Fórum das Entidades, de desvalorização do outro e das representações outras existentes e que buscavam se manter no Fórum das Entidades, visando legitimar e validar, mais uma vez, a organização Fórum das Entidades.
Não obstante, ao final da 1ª. audiência pública sobre o anteprojeto de lei do PROFICE, em Curitiba, realizada na ALEP, onde integrantes do Movimento Pró-Conselho Estadual de Cultura do PR fizeram parte da mesa oficial, soubemos que uma das integrantes da Diretoria do Fórum das Entidades, Sra. Waltraud Sékula, questionou a legitimidade do trabalho e atuação política-cultural destes convidados – que naquele momento representavam a sociedade civil, sendo que um destes integrantes da mesa, era nossa conselheira do Fórum de Dança de Curitiba, Marila Velloso. Bem, não iremos aqui discorrer sobre a atuação artística e política de Marila Velloso, cocriadora com outros de nós – Rose Rocha, Loa Campos, Peter Abudi, Clayton Leme, Silvia Nogueira, Lernardo Taques, Nayara Araújo, Gladis Tridapalli - de uma organização política da dança que tem um reconhecimento e representatividade local, regional e nacional mesmo junto a outras áreas artísticas de todo o Estado. Basta pesquisar em nosso blog ou em outros canais de informação sobre nossa atuação. Esse questionamento nos soou como um procedimento de desvalorizar o outro.
Contudo, este modo de questionar a validade do outro e de se referir a artistas e organizações outras do Estado e do Município (mesmo que participantes do Fórum das Entidades) não nos causou espanto, pois em 2009, no dia 27 de novembro, em Campo Mourão, durante a realização da Conferência Estadual, na qual o Fórum das Entidades atuou como parte da equipe de organização - nós artistas que reivindicávamos pela leitura do Regimento Interno da Conferência - fomos mencionados publicamente pela representante-diretora do Fórum das Entidades, Sra. Waltraud Sékula, como artistas que estavam, em função das reivindicações por mecanismos transparentes e oportunidade de voz, cumprindo um “des-serviço” a Cultura. Na ocasião, éramos artistas e representantes de organizações das cidades de Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçú, que reivindicávamos pela leitura do Regimento, e por condições mínimas de ORGANIZAÇÃO, como uma mesa e uma caneta para anotações sobre questões dos delegados.
Novamente, com esta carta, este Fórum empreende tempo e esforço para esclarecer modos, escolhas e posicionamentos, pois entende que para além das reflexões e opiniões de cada um, estamos construindo o espaço artístico, político, econômico e de sustentabilidade para as Artes e para a Cultura em Curitiba e no Paraná. Porém estes espaços são construídos por muitos. O aumento de representantes e instâncias de representatividade fortalece a Cultura e as Artes e não ao contrário. E processos de desvalorização e indiferença ao outro ou aos outros estão sempre associados aos processos de dominação.
Mesmo que muitos destes procedimentos mencionados não tenham partido de V.Sa., estes continuam a ser empreendidos durante a sua gestão, e neste sentido, nos ficou inviável permanecer.
Agradecemos à V.Sa. pelas tentativas de estarmos juntos, e entendemos que esses esclarecimentos são de validação para que reflexões possam ser aprofundadas. Não é no bochicho que refinaremos nossos modos de atuação.
Atenciosamente,
Fórum de Dança de Curitiba- Conselheiros: Loa Campos, Marila Velloso, Rose Rocha, Yiuki Doi –
www.forumdedancadecuritiba.blogspot.com – forumdedancadecuritiba@gmail.com

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